Quando assim é, parece que cada acontecimento positivo é acompanhado por uma carga de episódios negativos. É incrível como têm o dom de surgir uns atrás dos outros. Por muito que se contrarie, quando têm de acontecer acontecem. Ora é trabalho, ora é faculdade, ora são doenças, ora são falecimentos. Surge de tudo. E aí, mais vale aceitar e entrar no "sim senhora, venham eles", do que remar contra a maré. Perde-se a força. Não se sabe para onde é que se há-de virar, o que fazer, ou o que dizer. Por muito boa disposição e por muito optimismo que se tenha, começa a não ser suficiente. É aqui que entra a maturidade e a experiência de vida, para evitar que a desmotivação leve a melhor e que haja um baixar de braços repentino. Contudo, quando assim não é, a fuga mais fácil acaba por ser o silêncio. Sobrevive-se mais do que se vive. Não há grande vontade para nada e o que fica acaba por ser a obrigação que a rotina diária sempre leva avante. E deixa de se querer, ou conseguir, explicar seja o que for, porque já não há forma de o fazer. Começa a aplicar-se o "vai-se indo", expressão que parece que em tudo alivia, tanto para quem diz, como para quem ouve. Enquanto se está no "vai-se indo" ainda não se está no "tudo mal". Mas é uma forma de se dar a entender que qualquer atitude diferente, que cada brincadeira menos sentida e que cada sorriso menos genuíno, se deve a isso mesmo. Porém, é quando já se ultrapassou a fase de rir para não chorar que parece que a vida começa a dar uma volta. Lamentações só mesmo no Muro. Não adiantam. É depois disso que o disco muda e que pequenas coisas vão acontecendo. Se calhar sempre estiveram lá, mas quando a luz se fecha, os olhos nada querem ver. Há-que esperar um tempo para se habituarem e começarem a percepcionar os contornos das coisas. Aí decide-se estender a mão, apalpar o terreno e começar a andar para a frente. Inicia-se a saga de enfrentar cada obstáculo que se meteu à frente, desde o mais pequeno até ao maior. E, devagar, se vai percorrendo a escuridão. É um processo. Leva o tempo que tem de levar. E é neste caminho que todas as pessoas que estão lá para acender um fósforo, por mais pequeno que seja, são importantes. E, muitas vezes, é tão difícil de lhes agradecer e de lhes explicar o quão importante foi esse gesto. Enquanto se está ocupado em continuar e em não fechar os olhos, o coração vai agradecendo em silêncio por toda a compreensão. E acredito que no final não haja sentimento maior do que o de gratidão. Até lá resta aproveitar cada raio de luz.
(Em Des'acordo ortográfico)
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